"Os passageiros nos vêem como símbolo de elegância e postura", diz Sofia Rossi - aeromoça comissária de bordo da Varig e profissional de etiqueta profissional.
Sofia Rossi é uma figura emblemática na história da aviação civil brasileira. Comissária de voo com quase de 27 anos de experiência, trabalhou na Cruzeiro do Sul e na Varig.
Autora do livro Modos e Estilos, Sofia é também consultora de etiqueta, boas maneiras, postura e marketing pessoal.
Confira abaixo:
Uma frase: Viva intensamente cada minuto de sua vida, pois ele é único!
Uma cidade no mundo: Los Angeles/ US
Uma cidade brasileira: Rio de Janeiro
Rota favorita: Los Angeles/ Tokyo
Um filme: Amor além da vida
Um ator/atriz: Anthony Hopkins/ Meryl Streep
Um livro: A viagem de uma alma – Peter Richelieu
Um escritor(a): Carlos Castanheda
Prato preferido: Massas em geral
Bebida favorita: Água e vinho tinto
Porque decidiu ser aeromoça?
Quando era pequena, meu irmão e eu desenhávamos aviões o tempo todo. Ele sempre na cabine de comando e eu na cabine de passageiros. Ele não seguiu a profissão, pois teve um problema no ouvido interno, já eu segui meu sonho.
O que é ser comissária de voo para você?
A comissária é um ser especial. Ser comissária é ser responsável, disciplinada e comprometida com o trabalho. Sempre quis entender o que nos faz largar mão da vida “normal” e seguir esta carreira fascinante!
A aviação comercial perdeu o glamour que tinha?
Não que tenha perdido o glamour, mas a aviação contemporânea segue o cotidiano das pessoas, que mal tem tempo para sua própria vida. Hoje em dia em menos de duas horas podemos chegar a vários lugares no nosso país. A aviação mudou, as pessoas mudaram, os interesses mudaram e as empresas também.
O glamour existia, pois eram outros tempos e nem todos tinham acesso a viagens aéreas, voar era um evento social.
Qual dica você poderia dar para pessoas que pretendem ingressar na profissão?
Que tenham o pé no chão ao constatar a instabilidade que está a aviação no mundo inteiro. Que não abandonem suas faculdades, que estudem muito e aprimorem um idioma, pois será seu diferencial em qualquer empresa, independente de ser ou não na aviação.
Infelizmente nem todos conseguirão pegar sua mala para trabalhar a bordo. Lamento que algumas escolas, visando apenas seu interesse financeiro, não aconselhem os aspirantes à função e com isso, alimentam esperanças em pessoas que sabemos que não chegarão lá. Como disse anteriormente, a aviação mudou.
O que diria aos pais de uma garota que não aceitam a profissão para a filha?
Situação complicada essa hein? Para ingressar na carreira é exigida idade superior a 18 anos e a essa altura, supõe-se que a candidata já deva ter em mente o que pretende fazer de sua carreira profissional. Cabe aos pais apoiar seus filhos e não criticar suas escolhas. Na carreira a participação da família é fundamental.
Poderia citar uma situação engraçada que ocorreu em algum voo?
Sim foram várias! Esta, por exemplo, aconteceu no Rio de Janeiro durante um embarque. A aeronave estava em posição remota e um colega muito solícito viu uma senhora subindo as escadas com um bebê no colo e sacola na outra mão. Imediatamente foi em sua direção para ajudar e “pegou a criança” que vinha ao seu lado! Foi aí que a criança disse:
- Me larga!!! Você não está vendo que sou anão?
Já passou por alguma situação grave de emergência? Se sim, poderia contar um pouquinho para nós?
Sim e felizmente não foram muitas.
Foi em 1985, num DC10 voo Manaus/ Brasília/ Rio de Janeiro. Já havíamos servido o almoço e estávamos aprontando as bandejas de café. Eu trabalhava na primeira classe e como já havia terminado meu serviço, resolvi dar um pulinho na econômica para ajudar os colegas.
Quando cheguei na galley traseira, vi que tinha muita gente por lá e resolvi voltar. Já estava perto da porta 2 (porta de embarque) quando caímos. Nesta queda, eu subi, bati com o ombro no teto do avião e a colega que estava ao meu lado também ‘voou’.
Caímos no chão, vimos que estávamos bem e imediatamente nos dirigimos à econômica, onde tinham mais passageiros. A visão foi horrível! Parecia um terremoto!
Os passageiros que estavam sem cinto também ‘voaram’ e caíram em cima dos que o usavam. Alguns se machucaram, outros começaram a chorar e nessa hora, a gente consegue ter forças sem saber de onde!
Qual a importância da elegância e da etiqueta na profissão de aeromoça?
Primordial! Lidamos com todo tipo de gente e temos que ter o discernimento ao atende-los! Apesar da correria nos voos os passageiros ainda nos vêem como símbolo de elegância e postura. Acho importante que as escolas de aviação proporcionem esta matéria à seus alunos.
O que já sentiu e/ou sente pela antiga Varig?
Sempre tive vontade de ser comissária da Varig, já que era a maior empresa do Brasil e consegui durante quase 27 anos. Foi uma relação duradoura e feliz, amava meu trabalho e a Empresa. Fiz o possível e o impossível para exercer meu trabalho à bordo e hoje faz parte do meu passado recente, já que tive maravilhosas oportunidades proporcionadas por ela. Como aquela Empresa na qual eu voei não existe mais, ficou a saudade dos bons tempos apenas.
Existe alguma companhia aérea (mesmo internacional) que você admira por achar que faça prevalecer a elegância e glamour de antigamente?
Como disse anteriormente, as empresas e seus interesses mudaram, são outros tempos. Acredito que apenas na primeira classe tenhamos mais tempo para dar atenção aos passageiros. Admiro o serviço e apresentação da Emirates.
O que é mais importante para ser um excelente comissário?
Para ser comissário de bordo há que ter dedicação, postura e disciplina. Para ser um excelente profissional é necessário o comprometimento e completa adaptação ao que se faz.
O passageiro perfeito é aquele que...?
Entra no avião, nos cumprimenta, presta atenção em nossas demonstrações de emergência, que se dispõe a nos ajudar em caso de necessidade e que não cria situações desagradáveis a bordo.
O comissário de voo perfeito é aquele que…?
É comprometido com seu trabalho. Uma vez de uniforme, tem a consciência que representa a companhia aérea perante tudo e a todos. É o que respeita e é respeitado. É o que cuida de sua saúde e não voa doente. É o que acata as normas da profissão e não as desrespeita.
Bons voos a todos!
Muito obrigado, Sofia!!
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