sábado, 4 de maio de 2013

Entrevista – Comissária da TAM

O nome dela é Tarcila Barbosa de Azevedo, 29 anos, uma comissária da TAM.



1. Há quanto tempo você é comissária de bordo? 
TARCILA DE AZEVEDO (TA) -  Há 4 anos e 9 meses. Terminei meu curso de comissária em Abril de 2007, prestei banca ANAC no mesmo mês e ano e fui admitida em julho de 2008.
2. Por que você decidiu tornar-se comissária?
TA -  Humm… Não era um sonho de criança. Brinco que caí de paraquedas na aviação. Foi algo que foi me conquistando aos poucos e já depois de adulta. Meu pai falava quando eu era criança que eu iria trabalhar em aeroporto e minha irmã ia se formar na faculdade. Eu cresci ouvindo isso, mas deixei de lado. Quando adulta, com exatos 21 anos, eu trabalhava como telefonista numa rádio na época e uma ouvinte quis ir à rádio me conhecer. De tanto ela ligar ficamos amigas. Quando ela me viu disse na hora que eu tinha perfil de aeromoça. Essa ouvinte trabalhava no aeroporto em Recife, no setor de raios-X. Eu disse pra ela que não, que eu não tinha altura suficiente nem beleza pra ser aeromoça. Ela insistiu. E quando foi certo dia ela ligou na rádio, no horário em que eu estava trabalhando e me deu o telefone da escola de comissário. Pediu pra eu ir atrás que eu tinha perfil sim. Aí curiosa fui atrás. Conversei com o dono da escola, perguntei se eu realmente tinha perfil e ele foi taxativo: tem perfil e ainda mais, perfil TAM. Fiquei toda animada e comecei a pesquisar mais sobre a profissão. Pronto! Foi o suficiente pro “bichinho” da aviação me contaminar. Amo o que faço!
3. Como foi o seu processo seletivo?
TA - O meu currículo foi enviado pela própria escola de comissários. No meu caso foi muito rápido! A escola enviou meu currículo numa segunda, me ligaram na quarta pra estar na seleção em SP na sexta. Uma semana de fortes emoções! A seleção durou 1 mês*.

4. Sua base é em qual cidade?
TA - Minha base é São Paulo.
5. Como é morar fora da sua cidade? 
TA - No começo não foi fácil. Uma cidade completamente diferente da minha, que eu só conhecia através dos noticiários na televisão. Mas quando temos vontade de ir em busca da conquista desse sonho, a diferença de cultura, sotaque, pouco dinheiro não importa muito. A intenção é conquistar seus objetivos. Logo que cheguei o primeiro impacto foi com o clima. Morei em Recife o tempo inteiro e só saí de lá pra ir morar em SP a trabalho, sem família, amigos, sozinha. Mas, Papai do Céu é muito justo com aqueles que buscam crescer na vida e na pensão onde fiquei fiz muitas amizades. Amigos que se tornaram irmãos em busca do mesmo objetivo e juntos conseguimos conquistar o que nos motivou a estar ali. 
6. Poderia explicar aos futuros comissários como funciona uma escala dirigida?
TA - A escala dirigida funciona da seguinte maneira: O Tripulante entra em contato com sua chefia e pede a escala dirigida que consiste em liberar o tripulante de pernoitar em hotel quando estiver tripulando um voo pra sua cidade de origem. Exemplo: Eu sou de Recife. Toda vez que tripulo voo pra lá não pernoito em hotel, mas sim na casa de meus pais. Assim a empresa economiza e eu consigo visitar mais vezes meus pais ao longo do mês. E também tenho mais voos programados para minha cidade natal.
7. O que dizer aos que moram em cidades sem base de companhia aérea e que têm receio de ter que se mudar? Dá tempo de voltar em casa? 
TA - Que não tenham receio da mudança. Tudo acontece pra um bem maior. Tenho vários amigos que moram no interior que visitam sim seus familiares apesar da cidade não ter aeroporto. Por lei temos direito a 8 folgas mensais e uma dessas folgas tem de ser uma FOLGA SOCIAL, que consiste em dois períodos de 24 horas sendo nos dias sexta e sábado ou sábado e domingo ou domingo e segunda. Essa folga social é justamente para que o tripulante vá visitar seus parentes, pais, amigos, viajar, estudar.. enfim fazer o que quiser. E a maioria de nós escolhe esse período para visitar os parentes. Além disso dá tempo sim de ir em casa nos demais dias de folga. Como trabalhamos por escala nem sempre teremos 2 dias apenas de folga. Muitas vezes a escala é publicada com 3, 4 ou até 5 dias de folgas seguidos!
8. Qual sua altura? O que você diria aos que se acham baixinhos demais ou altos demais, há lugar para eles na profissão?
TA - Tenho 1,60m. O que eu diria: que existe lugar pra todo mundo em todo lugar. Alguns amigos que foram reprovados por altura na mesma cia aérea em que eu trabalho, hoje trabalham em outras cias aéreas e estão completamente felizes e realizados. O segredo é não desistir!

9. E quanto à idade? As empresas seguem alguma regra de limites de idade para contratação? 
TA - Não tenho certeza quanto a regra de limite de idade. Mas existem comissários que começaram na aviação com 35, 37 anos de idade. Não são tripulantes que voaram em outras cias aéreas antes de chegar nessa empresa. São pessoas que realmente começaram com uma idade mais madura, mais experiente e com um outro olhar em relação ao trabalho.
10 . Em sua opinião, há muita gente competindo por vagas? Há espaço para todo mundo?
TA – Não. Faltam comissários qualificados para assumir a função. Há vagas para todos.
11. O que pode ser um diferencial no candidato em busca do sonho? Quais os tipos de qualificações que ele deveria ter no currículo?
TA - Preferencialmente IDIOMA FLUENTE! Isso é o diferencial pra qualquer cia aérea hoje em dia. Mas, se o comissário tiver nível intermediário seja qual for o idioma já está de bom tamanho.


12. Quais são os conselhos que você daria para quem está aguardando por ser chamado para uma entrevista?
TA - Se preparar psicologicamente para as mudanças que estão por vir. Se preparar financeiramente, fazendo uma poupança, para pagar as despesas de viagens para a seleção, hospedagem, alimentação. E principalmente se preparar investindo em idiomas. Ingressar na aviação hoje, sem ter ao menos noção em um idioma, seja ele qual for, é perder 50% de chance de ser aceito por uma cia aérea. E não vale dizer que não tem condições de pagar um curso de idiomas. Eu não tive condições e meti a cara nos livros e estudei sozinha, traduzindo músicas, lendo livros nas bibliotecas públicas. Hoje é muito comum os cursos de idiomas pela internet e gratuitos. Vale a pena dedicar umas horinhas diariamente.
13. Quais os prós e os contras de ser comissária de bordo?
TA - A profissão tem seu lado bom, mas também tem o seu lado “menos bom”. O lado bom é a tua evolução, o contato com pessoas de todo lugar do mundo. A oportunidade que você tem de abrir o leque de conhecimentos. Você aprende no dia-a-dia a ter jogo de cintura, saber lidar com o próximo, com pessoas de todo tipo. É chegar a uma cidade e pensar: quem diria que eu estaria aqui com pessoas que nunca vi na vida, que nesses dias de voo são meus companheiros de trabalho, vivendo esse momento gratificante? Oportunidade de conhecer o mundo! De ter um bom salário, de ajudar quem você quiser. De planejar ir a Disney nas férias e se sentir uma criança quando tirar uma foto ao lado do Mickey.
Agora o lado “menos bom”, posso dizer assim é que nem sempre teremos tempo hábil de estar ao lado das pessoas que amamos. Datas comemorativas, aniversários, nascimentos, óbitos, nem sempre você estará presente. Amigos alguns entenderão. Outros deixarão de te convidar pra festa deles justamente pela sua ausência. Mas posso ser sincera, os amigos que não entendem sua profissão jamais foram seus amigos de verdade. Estar longe não quer dizer que você não está presente. Os amigos de verdade sempre terão orgulho de dizer: Meu amigo é comissário de voo. Seus parentes terão orgulho em te ver de uniforme e ter uma foto sua na casa deles. Quantos sonhos você embalará quando uma criança te vir de uniforme e pedir: posso tirar uma foto com você? É nisso que penso sempre que tenho de voar na noite de Natal, Ano Novo, dia das mães, dia dos pais. Não é fácil, mas com o tempo você se adapta e cada tripulação com quem você voa forma-se uma nova família.
14. O que é mais gratificante em sua profissão?
TA - Ah, com toda certeza, é fazer parte da vida de cada um dos passageiros que levo. Cada um tem sua particularidade. Uns ansiosos e encantados por ser a primeira vez que andam de avião. Outros tristes por estar indo ao enterro de um parente. Mas a maioria deles felizes por estar ali tendo um pouquinho da sua atenção que para alguns deles é o momento mais esperado da viagem. Realizo-me quando um passageiro desembarca e fala pra mim: excelente voo, excelente equipe chefe. Parabéns!