1- Quando decidiu se tornar um Comissário de Bordo?
Marcílio Breno (MB) - Meus brinquedos preferidos sempre foram os aviões. Além disso, desde muito cedo, quando a viagem de avião ainda não era acessível a todos, eu me realizava quando ouvia alguém contar sua experiência de ter voado… Eu queria saber de tudo! Do lanchinho servido a bordo, do friozinho na decolagem que todos diziam, da beleza das “aeromoças”, de como era o avião por dentro… De tudo aquilo que é novidade quando não conhecemos o voo. Em 2007, ganhei de presente de aniversário dos meus pais, uma viagem para o Rio de Janeiro. Não era uma viagem comum, eu ia de AVIÃO!!! Foi perfeito!!! No voo, os comissários super atenciosos respondiam as milhares de perguntas que eu fazia. Comi comida da tripulação e até speech (alocução os passageiros) eu fiz! O desejo que sempre tive, a atenção que ganhei em minha primeira viagem e a ideia da possibilidade de conhecer o mundo foram os motivos que me fizeram querer estar como eles um dia… E hoje estou aqui!!!
2- Além de comissário, você é instrutor em escola de aviação civil. O que você ensina? Há quanto tempo? Conta um pouco para nós sobre este outro lado de sua carreira!
MB - Sou instrutor da disciplina de Emergência a bordo há 2 anos e meio. Dedico minhas folgas a SAT – Escola de Aviação Civil de Fortaleza. Lá eu divido a sala de aula com outra comissária (Suellen Soares), que também voa na GOL. Procuramos tornar nossa aula bem prática e dinâmica, levando aos nossos alunos todas as nossas experiências e tudo o que aprendemos. Esse lado da instrução pra mim é fascinante… Os alunos ficam empolgados conosco, pois já somos comissários e assim como nós fomos um dia, nos enchem de perguntas. A própria disciplina ajuda a despertar vontade nos alunos. Emergências, Simulações práticas… O brilho no olhar deles me faz querer poder contribuir para a realização de cada um.
3- Depois de formado demorou muito para você conseguir ingressar na Gol? Como foi esse processo da busca pela vaga?
MB - Minha escola iniciou o envio do meu currículo para as empresas tão logo eu fui aprovado na banca da ANAC. Eu acompanhei o ritmo e enviei para todos os endereços que eu encontrava na internet, me cadastrei nos sites de todas as cias aéreas. Eu queria muito voar e apesar de ter o sangue “LARANJA” (risos), essa não foi a primeira empresa na qual tive oportunidade de participar do processo seletivo.
Primeiramente participei do processo seletivo da TAM e WEBJET em 2008 e 2009 respectivamente. Na TAM fui aprovado, porém desligado antes mesmo do iniciar minhas atividades devido à crise financeira mundial que acontecia naquela época e que atingiu o plano de crescimento da empresa. Foi uma decepção muito grande! Na Webjet eu não fui aprovado. Na época fiquei muito triste, mas hoje sei que tudo isso aconteceu porque o melhor estava por vir… Eu faria parte do “Time de Águias”!!!
Em 2010 tudo aconteceu!
4- Como foi se mudar para São Paulo?
MB - Essa foi a parte mais difícil. Sou muito apegado a minha família e não conhecia ninguém na capital paulista. Minha chegada ao aeroporto de Congonhas foi marcada por muitas interrogações. Eu tinha 19 anos e nunca tinha saído de casa. Com minha mala eu comecei aquela nova fase… Tudo aqui é bem diferente, mas logo me adaptei! Hoje fico pouco em São Paulo. Uso meus passes para voltar pra casa nas folgas.
5- Você consegue voltar na sua cidade? Na Gol existe a escala dirigida? Como funciona?
MB - Sim! No meu Caso, eu peço dispensa de hotel em Fortaleza. Quando minha escala esta sendo confeccionada, a empresa procura me encaixar em voos onde a tripulação pernoita em Fortaleza. Assim a tripulação segue para o hotel e eu descanso em casa! Nessa situação eu me apresento para o voo diretamente no aeroporto. Assim funciona para os tripulantes dos outros lugares também.
6- Quanto aos destinos dos voos, dá tempo de conhecer os lugares por onde você passa?
MB - Essa é a melhor parte! É sempre bom dividir com os amigos as fotos de algum lugar novo. Dependendo do período de descanso, podemos aproveitar para conhecer o lugar em que estamos pernoitando. Sempre que possível juntamos alguns membros da tripulação e aproveitamos para isso! Quando o tempo é pouco, esperamos a um novo pernoite, pois precisamos descansar e estar sempre bem em nossos voos.
7- Como é a sensação de sozinho com uma mala, viajar Brasil a fora? Um pernoite pode ser muito solitário? O que você diria aos que tem medo deste lado da profissão?
MB - Se eu pudesse colocar minha mãe, meu pai e meus irmãos na minha mala eu com certeza faria (risos). Sinto muita falta deles, mas posso garantir não ficamos tão sozinhos assim. A própria facilitação de comunicação que temos hoje (celulares e internet) ajuda a nos deixar mais próximos! Sempre que fico sozinho ligo a câmera do meu celular com meus pais ou irmãos pra mostrar meu quarto do hotel, o que vou jantar e saber deles também. Como sempre posso voltar pra casa, não sinto muita dificuldade quanto a isso. Para as Mamães comissárias sei que pode ser mais difícil.
8- Como funciona sua rotina num dia normal de trabalho?
MB - Nossos horários nem sempre são iguais aos do dia anterior. Começamos nossa rotina de trabalho ainda em casa ou no hotel quando vestimos nosso uniforme. Temos que estar sempre muito bem apresentáveis. Seguimos para o aeroporto. Lá o(a) Comandante faz um briefing com sua tripulação e nos informa todas as condições daquele voo. O (a) Chefe de Cabine checa a documentação dos comissários e também nos passa algumas informações como o numero de passageiros, se teremos alguma prioridade ou atendimento especial no voo e tudo que julgar necessário. Depois disso vamos para o avião, cada comissário segue para sua área de atuação na aeronave e checa todos os equipamentos de emergência disponíveis a bordo, conforme estudamos sempre. Os tripulantes técnicos (Piloto e copiloto) fazem o mesmo na cabine de comando. A partir daí o embarque dos clientes está liberado. Recebemos todos com aquele sorriso, fazemos alocuções, fechamos as portas da aeronave, realizamos a demonstração de segurança, fazemos o serviço e bordo e ficamos sempre atentos a qualquer anormalidade na cabine de passageiros durante o voo. Nesse caso, avisamos a cabine de comando e atuamos de acordo com o nosso treinamento. É para garantir a segurança de todos que estamos ali!
9- O comissário quando está fora da base vai direto ao hotel? A Cia que faz o translado? E quanto às refeições, são feitas no hotel? Estão inclusas?
MB - Sempre que chegamos a algum lugar fora de nossa base (a minha é São Paulo), no desembarque do aeroporto tem um transporte contratado pela empresa para nos levar para o hotel. O mesmo acontece no trajeto Hotel-aeroporto. Quanto às refeições, temos direito apenas o café da manha. As demais não estão inclusas em nossa hospedagem, pois periodicamente é depositado em nossa conta um valor referente às nossas diárias de alimentação. Funciona basicamente assim… Por cada período de refeição que se passa longe de sua base, você recebe uma diária. Atualmente o valor que o tripulante recebe por um período de almoço ou jantar caso ele esteja fora de sua base é um pouco mais de R$50,00 por refeição.
10- E quanto ao uniforme, vocês os lavam e passam no hotel? Isto está incluído nas despesas de estadia bancadas pela empresa?
MB - Sim! Quando chegamos ao Hotel, nosso uniforme é retirado para ser lavado. No outro dia, uma hora antes da nossa apresentação ele é devolvido limpo e passado. Mesmo assim é importante sempre manter uma peça reserva na mala. Já pensou se acontece alguma coisa com a que você colocou pra lavar?
11- Qual a parte mais difícil de ser comissário de bordo?
MB - Vejo que não temos uma profissão onde podemos dormir todos os dias com regularidade no mesmo horário e comer assim também. Com isso, às vezes nosso organismo não acompanha esse ritmo e nos sentimos menos dispostos… Por isso é muito importante cuidar do descanso, se alimentar bem e fazer alguma atividade física.
12- Para você, quais as vantagens de ser comissário?
MB - Nossa formação nos da à oportunidade de conhecer um pouco de tudo. Temos conhecimentos de primeiros socorros, combate ao fogo, sobrevivência, nos dedicamos a falar mais de um idioma… Nem toda profissão oferece essa oportunidade. Temos uma remuneração razoavelmente boa e a oportunidade de oferecer a nossa família passagens bem mais baratas. Conhecemos o mundo e estamos sempre em bons hotéis. Quando falamos que somos comissários, todos querem saber um pouco sobre o nosso trabalho! Eu amo minha profissão!!!
13- Você já passou por alguma situação complicada ou engraçada em voo? Alguma emergência?
MB - Já derramei bebida em alguns passageiros. Às vezes somos pegos de surpresa por algum movimento da aeronave e isso acontece… Fiquei com muita vergonha em todas elas. O negócio é manter a educação, o sorriso e fazer de tudo para minimizar a situação…
Nunca passei por nenhuma situação de emergência, mas procuro estar sempre bem condicionado para qualquer eventualidade. Temos um treinamento árduo quanto a isso!
14- Quais são seus planos? Existe um plano de carreira para comissários de voo?
MB - Hoje sou aluno do curso superior de Ciências Aeronáuticas. Em médio prazo, pretendo fazer carreira como piloto. Ainda vai demorar um pouco… O comissário de acordo com seu tempo de empresa pode alcançar rotas mais desejáveis como os voos para fora do país. O cargo de Chefe de Cabine é alcançado de acordo com sua antiguidade e aprovação em provas. O Chefe de cabine pode se tornar instrutor de voo e até Examinador.
15- Qual é o perfil de um comissário da Gol?
MB - Todas as empresas buscam comissários simpáticos, proativos, que saibam se expressar bem e que tenham facilidade em se comunicar com as pessoas. Na GOL não é diferente, mas sinto que além de tudo isso, temos um comportamento diferente, moderno, inovador… Somos muito humanos com nossos passageiros também. Aqui não esperamos nossos clientes com mãos sobrepostas na porta do avião. Estamos sempre de braços abertos pra todos eles.
16- Algumas palavras de incentivo aos futuros comissários que estão ansiosos para voar?
MB - Sei que a espera pela oportunidade de uma seleção é angustiante e que às vezes nos desmotivamos com isso. Eu por exemplo passei dois anos para conseguir, mas dediquei esse período aos estudos de inglês e de cursos que fariam o diferencial no meu Curriculum. Use esse tempo para investir na sua formação! Invista em sua formação superior também! Guarde uma pequena reserva para seus gastos com a viagem para São Paulo… A qualquer momento você pode ser convidado a participar de uma seleção! Se a aprovação não vier na primeira tentativa, tente de novo!!! Por fim, não ouça nunca aqueles que lhe abordarem com palavras negativas… Logo vocês estarão aqui também! Ainda vamos nos encontrar nos aeroportos desse país… Eu tenho certeza!!!!
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