sábado, 27 de abril de 2013

Entrevista – Comissária de Bordo da Emirates!

Olá tripulantes!
Conheça como é a vida de uma comissária de bordo da Emirates!

O nome dela é Priscila Quach, uma cuiabana de 28 anos que apesar da pouca idade já possui bastante experiência de vida. Quando não estava trabalhando a bordo das diversas aeronaves da Emirates ela estava aproveitando mais ainda a oportunidade única de ser uma comissária de bordo – conhecer o mundo! Além de comissária de bordo ela também é blogueira, e em seus blogs revela os altos e baixos do seu dia a dia.


Porque você decidiu se tornar uma comissária?
Priscila Quach (PQ) – Eu nunca tive a idéia de me tornar comissária. Nunca. Eu era jornalista no Brasil e exercia a profissão. Foi muito por acaso. Senta que lá vem a história.
Em 2008 eu estava passando uns meses com meu então namorado em Houston – EUA. Eu estava fazendo umas aulas particulares de inglês e a minha professora disse que queria que eu fizesse um exercício com as tirinhas em quadrinhos do jornal. Ela especificamente me mandou comprar a edição de Domingo. No sábado a noite eu sai com meu namorado e encontramos uns amigos dele para fazer um lanche de madrugada. A esposa do amigo dele era comissária da Continental e contou um pouco da vida dela e de como ela conheceu vários países. Achei interessante. Cheguei em casa de madrugada e olhei os sites de pelo menos três companhias americanas procurando vagas. Nenhuma estava contratando. Eu queria mais era uma oportunidade de emprego aqui que me desse Visa e assim ficar mais tempo perto do amado.
No dia seguinte comprei o jornal e o meu namorado me mostrou um anúncio para a entrevista da Emirates. Resolvi tentar de raiva. Eu já estava há pelo menos 9h de voo de distância dele e ele agora me queria mandar para 16h de distância?
 Por quanto tempo você trabalhou na Emirates?
PQEu entrei na Emirates em janeiro de 2009 e sai em junho 2010.
Em qual companhia trabalha hoje?
PQ - A companhia que eu trabalho hoje tem leis bem restritas com relação ao que os funcionários postam na internet, por isso não vou dizer o nome. Mas dou a dica de que é a maior companhia aérea do mundo em número de rotas.


Como surgiu a ideia de fazer seus Blogs “Pra lá de Dubai” e “Agora Vôte!”?
PQ - Na verdade eu comecei o “Pra lá de Dubai” antes de ir para Dubai. Por um curto tempo ele serviu mais como um diário para deixar escapar um pouco da ansiedade enquanto eu esperava o meu final approval da Emirates. Eu já tinha recebido a “Golden Call” e estava para ficar louca literalmente esperando a confirmação. No fim eu deletei os primeiros posts e recomecei o blog para que amigos e familiares tivessem notícias do que eu estava fazendo do outro lado do mundo (e ao redor do mundo).


O novo blog “ Agora Vôte!” eu criei depois que me mudei de Dubai, já que o nome não justificaria mais, para contar o meu período de transição para os EUA.

Quanto a Emirates, como foi seu processo seletivo? 
PQ – Eu fiz a minha entrevista em Houston, Texas. Eles não fizeram Open Day pois o número de aplicantes aqui não é tão grande como no Brasil por exemplo. Eu preenchi o formulário online e o AD foi postergado por conta de um furacão que passou por aqui. No novo dia marcado apareceram cerca de 50 pessoas de todo os EUA. Poucas pessoas eram na verdade de Houston. No fim do dia éramos 10 pessoas selecionadas para a FI. Daquele dia eu só sei de mim e uma taiwanesa com quem fiz amizade desde o primeiro momento que cheguei no OD. Nós duas fomos escolhidas.


Agora vem o que é importante. Se você quer passar na seleção da Emirates ou de outra companhia aérea, presta atenção no que eu vou dizer. As entrevistas são todas muito parecidas. Ser comissário de bordo não é astrofísica. Por isso existem certas qualidades que eles procuram durante a entrevista.
* Será que ainda é preciso eu dizer que aparência é 50%? Não estou dizendo que precisa ser bonito(a). Estou dizendo que precisa saber se portar, se vestir. Meninos de terno. Meninas de saia lápis e terninho, sapato fechado, maquiagem conservadora, batom vermelho e coque no cabelo. Bolsa e acessórios conservadores.
*Evite gesticular com as mãos. Tente mantê-las sempre junto ao corpo. Mantenha postura ereta.
Lembre se que você é uma lady (pelo menos por um dia).
* Companhias aéreas funcionam como um exército. Com hierarquia. Eles estão procurando por pessoas que saibam ser subordinadas, que respeitam o poder de quem está acima. Saiba expressar opinião sem ser contestador. Pense nisso quando for responder suas perguntas, principalmente relacionadas a empregos anteriores e nos exercícios de grupo.
* Durante os exercícios de grupo exponha a sua opinião, mas não tente ser líder. Não é isso que eles estão procurando. No entanto, vale dizer que é importante ouvir a opinião de todos antes de tomar qualquer decisão, inclusive perguntando qual a opinião daqueles que preferem ficar quietos. Isso mostra que você se preocupa com seus colegas e em dar a todos uma oportunidade justa.
* Vale ajudar os outros nos exercícios. Quando eles dizem que nínguem toma a vaga de nínguem eles estão falando a verdade. Ganhe pontos mostrando que você sabe trabalhar em grupo e que tenta ajudar quando outros mostram dificuldades.
Qual era seu nível de inglês quando você participou de seleção? Você dominava mais alguma outra língua?
PQ – Era mediano. Bem mediano. O importante é ter inglês suficiente para conversação e escrita básica. Não tem problema se você cometer erros gramaticais. Eu faço isso até hoje e possivelmente sempre irei. Contanto que você consiga entender e se fazer entender, é o suficiente. Peça ajuda de alguém que fale inglês antes de se arriscar na entrevista. Peça a alguém para avaliar o seu nível de conversação.
Saber mais outras línguas realmente ajuda a ganhar pontos. Eu só sabia inglês e espanhol bem mais ou menos.
Quanto tempo durou desde o processo seletivo até o seu embarque para Dubai?
PQ – Eu apliquei em agosto de 2008, fiz a entrevista em outubro e recebi a ligação em Dezembro e fui para Dubai em janeiro.
Eu deveria ter recebido a ligação em novembro, mas eles tiveram problema com as minhas fotos . Elas não estavam nítidas o suficiente. Então vale a pena ir em um estúdio e fazer as fotos. Qualquer estúdio consegue tirar fotos melhores que você mesmo na sua Tekpix. Eu me lembro de ter pago R$ 15 só para tirar as duas poses que eu precisava.


Qual foi sua primeira impressão ao chegar em Dubai?
PQ – Achei tudo tão diferente, mas ao mesmo tempo tão interessante. Eu estava muito feliz, e não conseguia segurar a ansiedade de começar logo a minha jornada. A empresa facilita tudo. Cuida de você como mãe e pensa em tudo.







Quanto tempo durou seu treinamento no Trainning College? Foi difícil?
PQ - Não consigo me lembrar exatamente se foram 5 ou 6 semanas. Eu acho que foram 6 semanas. Eles exigem muita dedicação e cobram muito. Pense nisso como um sacrifício que tem que ser feito pelo bem maior que há por vir. Acordava cedo para ir para o Training College e só voltava no meio da tarde para estudar mais e fazer os deveres de casa. Era o dia todo de dedicação. Principalmente se inglês não é a sua primeira língua.
Quando chega a hora dos simuladores eles destroem os seus nervos. Muita gente chora. E faz parte, eles precisam ver quem não consegue aguentar o tranco.
Foi difícil, cansativo, mas compensador. Os seus amigos de Training College muito possívelmente serão alguns dos seus melhores amigos para a vida toda.



Houve choque cultural no seu dia a dia nos Emirados Árabes? Quais eram suas impressões?
PQ - EU não diria choque cultural. Minha mente sempre foi muito aberta. Eu diria mais como um lugar que não para de te trazer surpresas. Boas e ruins, mas surpresas. O importante é entender e respeitar o fato de que você não está no seu país, você está no país deles e se não estiver satisfeito pode ir embora que nínguem vai te segurar. Eu aprendi a gostar da comida, das tradições, da história e até das músicas.
Você vai ver muitas coisas erradas também, muita hipocrisia. Mas qual país ou povo é perfeito?



O que você achou mais diferente do Brasil por lá?
PQ – A mistura de deserto e arranha-céus. O deserto continua sendo para mim um dos cenários mais bonitos.
Como era sua vida como comissária? 
PQ – Todo mês eles nos passavam o nosso roster (escala) com os voos e os dias que tinhamos de folga. Depois disso você poderia tentar trocar com outros comissários pelos voos de sua preferencia. Todo mundo que ter um layover, quando você passa um dia pelo menos no seu destino. Nínguem quer turnarounds, os famosos bate-e-volta. Num dia normal de voo eu acordaria quatro horas antes da hora de partida. Demorava uma hora para me arrumar, descia e esperava o ônibus da empresa. Chega no headquarters deles e espera a hora do meu check-in. Ia para o briefing e depois pegávamos o ônibus direto para o avião. A logística deles é algo impressionante. Na volta deixava meu uniforme sujo na lavanderia deles (é de graça) e pegava os uniformes limpos.
Você podia escolher os destinos que iria voar?
PQ – Você pode colocar o seu bid e pedir voos que preferir. Mas isso vai ser avaliado levando em conta a sua senioridade. Se não recebeu os voos que queria a outra opção seria tentar trocar com outro comissário.



Dava tempo de conhecer e aproveitar muitos lugares diferentes?
PQ – Dava sim. Com o tempo você aprende a fazer o máximo do seu tempo nos destinos. Todo layover era de no mínimo 24hs.
Que lugares você conheceu? Qual mais gostou?
Nossa, vai ser difícil fazer a lista aqui, mas foram mais de 25 países. Acho difícil decidir entre China e Tailândia.
Priscila viajou para Austrália, Áustria, Bangladesh, China, Coreia do Sul, Filipinas, França, Hong Kong, Índia, Indonésia, Itália, Japão, Malásia, Marrocos, Mauritius (uma ilha no oceano índico), Nova Zelândia, Reino Unido, Rússia, Cingapura, Tailândia, Tanzânia, Uganda, Vaticano, Emirados Árabes… ufa! É deve ter mais…



Quanto ganha um comissário da Emirates? Quais os Benefícios? Vocês pagam impostos, aluguel, água, luz…?
PQ - Salário inicial é por volta de Dhs 8 mil, a moeda local. O que dá por volta de 4500 reais. Mas tem também as diárias recebidas em cada layover, o que ajuda muito. Dubai é tax free, não se paga imposto. O apartamento é oferecido pela companhia, e no máximo dividido entre três pessoas do mesmo sexo. As contas de água e luz são pagas pela empresa também. E linhas de van ligando os prédios ao aeroporto são gratuitas para os funcionários…



 Como foi a decisão de não mais voar na Emirates? Você gostou de ter trabalhado lá?
PQ – A minha decisão de deixar a empresa foi totalmente por amor. Eu estava noiva e meu noivo estava em Houston e decidímos que era finalmente a hora. Eu deixe Dubai para me casar.
O que eu posso dizer é que lá vivi alguns dos meus melhores momentos e alguns dos piores também. Valeu muito a pena. Mas estava cansada também. Mentalmente e fisicamente. Tudo é lindo e maravilhoso mas você trabalha muito. Vai ficar cansada como nunca imaginou ser possível. Vai dormir 16hs seguidas algumas vezes e vai passar dias fechada no seu apartamento só descansando. mas vai também passar dias fora de casa só festando. Como eu disse. Aaaaltos e baaaaixos!
Numa visão geral, quais eram os prós e contra de ser comissária da Emirates?
PQ – Prós são o bom salário, vida boa, conhecer muitos países, fazer muitos amigos e festar como se não existísse amanhã.
Contras são trabalhar duro, muito duro e aguentar passageiros. Não qualquer passageiro, mas os passageiros da Emirates. É outra história.

Agora onde você mora? Como foi a decisão de voltar a ser comissária de bordo?
PQ – Atualmente eu moro em Houston, Texas – EUA. Eu tinha acabado de receber minha permissão para trabalhar e estava procurando emprego. Uma amiga me avisou que estavam contratando comissários. Eu apliquei e esqueci. Já tinha arrumado um outro emprego, que eu gostava e que era ligado a aviação também. Meses depois me ligaram para a entrevista. Recebi a oferta no mesmo dia e resolvi aceitar pelos benefícios, principalmente os de voo.
Dessa vez como foi à busca pelo emprego?
PQ – Como disse, uma amiga me informou sobre a oferta de emprego. A entrevista se resumiu a um dia e as perguntas foram muito parecidas com as da entrevista para a Emirates. Aqui as pessoas não vão tão preparadas como no Brasil e no momento em que eu entrei na sala eu sabia que ia conseguir. Eu estava preparada para outra entrevista da Emirates quando era só para uma companhia americana. Os standards são bem mais baixos.
Você gosta de sua nova companhia aérea?
PQ – Por mais que eu sinto a falta da organização e logística da Emirates eu posso dizer que eu amo meu trabalho aqui. Não tem todas as facilidades, eu pago impostos, tenho que dirigir para o aeroporto, lavar meu uniforme e não tenho por enquanto todos os destinos maravilhosos da Emirates. Mas o importante é que eu estou vivendo a vida real. Eu tenho a minha casa, meu marido, meus planos para o futuro aqui em Houston e minha aposentadoria. Coisas quase impossíveis de se conseguir em Dubai. No fundo todo mundo sabe que aquilo não é para sempre.


Quais são os destinos de seus voos hoje? Ainda dá pra passear bastante?
PQ – No momento eu estou na base doméstica. Faço voos dentro dos EUA e em países pertos no Caribe. Como eu sou uma comissária reserva, o que significa que eu preencho espaços nos voos, eu posso voar para qualquer outro destino dentro da empresa. Questão de sorte. Em 9 meses o mais longe que consegui ir foi ao Brasil e a Irlanda do Norte.


Um recado para os futuros comissários que desejam entrar na Emirates!
PQ – Pesquise muito. Existem tantos posts, comunidades e pessoas online dispostas a ajudar a dar dicas. Dá para ter uma idéia completa de todo o processo. Faça disso um projeto. Estude as perguntas e respostas, treine na frente do espelho. Vale a pena o esforço. Você não vai se arrepender. A Emirates deu para mim oportunidade não só de conhecer o mundo, mas de crescer como pessoa, como ser humano. Oportunidade de ver que o mundo é muito maior que o meu umbigo.
Visitem os Blogs da Priscila! Pra lá de Dubai e Agora Vôte!



Sem comentários:

Enviar um comentário